GeoCodes: a criação de um jogo que une diversão e geotecnia

Por Isabelle J.V.C. César
Aluna de graduação do 8º período de Engenharia Civil na UFRR

Sempre fui apaixonada por jogos de cartas e tabuleiros. Quando conheci o GeoFun, projeto de criação de jogos para a área da Geotecnia, desenvolvido pelas professoras Mariana Chrusciak e Bruna Lopes, percebi que poderia unir duas das minhas maiores paixões: os jogos e a Geotecnia. E foi nesse instante que a ideia de transformar conteúdos técnicos em algo lúdico me encantou e ganhou minha atenção.

Durante a disciplina de Geotecnia Ambiental, uma das avaliações era escrever um artigo. Nesse momento eu enxerguei a oportunidade perfeita: produzir um artigo que unisse conceitos da disciplina e o desenvolvimento de um jogo. A partir disso eu me encontrei num super dilema: eu deveria construir um jogo do zero ou adaptar um jogo que já existia? Assim, levando em conta o tempo que eu tinha e o objetivo da avaliação, que era fixar melhor os conceitos da disciplina, eu optei por adaptar um jogo já existente. O Codenames é um jogo que eu gosto muito e tenho contato regularmente, então como eu queria um jogo que trabalhasse diretamente com conceitos, ele veio na minha cabeça automaticamente. E foi a partir disso que desenvolvi o GeoCodes, um jogo educativo de associação de palavras voltado para o ensino da Geotecnia. 

O GeoCodes é um jogo de tabuleiro que desafia os jogadores a relacionar conceitos da Geotecnia a partir de pistas, estimulando o raciocínio lógico e o aprendizado de forma divertida. A proposta é promover a assimilação de conteúdos técnicos de maneira ativa, colaborativa e descontraída, direcionado não só para estudantes da área, mas também para quem está tendo o primeiro contato com o tema.

(a)
01
(b)

Figura. Exemplo de a) configuração do jogo e b) configuração real do jogo.

A primeira etapa foi revisar os conceitos estudados na disciplina e selecionar os que seriam utilizados no jogo. Ao total foram selecionados 80 conceitos, que posteriormente foram divididos em categorias.

Eu queria que o jogo parecesse um jogo de verdade, com cartas, cores e elementos que lembrassem um produto pronto para ser jogado, então ter um visual atrativo era algo essencial para mim. Então na segunda etapa eu realizei a criação do design das cartas, da arte da caixa e todo o material gráfico por meio do Canva e de ferramentas de IA, o que facilitou a personalização do jogo. O processo, de modo geral, foi um desafiador, mas ver tudo tomando forma foi muito satisfatório.

(a)
Exemplo mesa com gab
(b)

Figura. Exemplo de: a) gabarito disponível para os mestres-geotécnicos e b) cartas-código.

Nessa etapa, um dos processos mais criativos foi adaptar os papéis do jogo original para o contexto da Geotecnia. No GeoCodes, os agentes de campo se tornaram os Estabilizadores e Biorremediadores, representando estratégias reais de atuação em solos contaminados. O temido “assassino” foi transformado no Contaminante, que simboliza os desafios enfrentados na Geotecnia Ambiental. Já os “spymasters”, responsáveis por guiar a equipe no jogo original, viraram os Mestres Geotécnicos, aqueles que dominam os conceitos e guiam os demais jogadores.

Figura. Cartas sinalizadoras com as cores correspondentes.
Figura. Caixa e elementos do jogo.

E para que a gente pudesse ter um panorama melhor da satisfação e opinião dos colegas sobre o GeoCodes e sobre a utilização de jogos em sala de aula, desenvolvemos um questionário com algumas perguntas para medir essas impressões. O questionário, que passou pelo comitê de ética da UFRR, foi aplicado logo após a aplicação do jogo em sala de aula.

A idealização e o desenvolvimento do jogo foram feitos por mim, mas com muito apoio ao longo do caminho. Minhas orientadoras me ajudaram desde a submissão do projeto no Comitê de Ética até insights valiosos durante a construção. Também contei com a contribuição da Glenda Santos, do curso de Psicologia da UFRR, que me auxiliou na análise estatística dos resultados do questionário respondido pelos alunos. E claro, os colegas da minha turma foram fundamentais: jogaram, testaram, e me deram sugestões importantíssimas para deixar tudo ainda melhor.

O teste do jogo foi feito com os alunos da disciplina de Geotecnia Ambiental, da qual eu também fazia parte e foi realizado no final do semestre, quando todos ainda estavam com o conteúdo fresquinho, então o engajamento foi ótimo. A partir das respostas do questionário recebi sugestões valiosas, como criar um vídeo explicativo sobre o manual, porque, convenhamos, o jogo é um pouco complexo nas primeiras jogadas, além de uma proposta sugerindo deixar o glossário mais acessível.

Figura. Teste do jogo em sala de aula.

E foi aí que nasceu o… GEOnius! Sim, um trocadilho com “gênio”, porque ele é praticamente um gênio da Geotecnia. O GEOnius é um chatbot que responde dúvidas sobre as regras do jogo e os termos técnicos utilizados nas cartas, ajudando os jogadores durante a partida sem precisar sair do fluxo.

(a)
Blog2_GeoCodes_09
(b)

Figura. a) GEOnius e b) GEOnius sendo utilizado como suporte para o jogo.

Além disso, a liberdade criativa que tive durante o processo foi essencial. Poder pensar em cada detalhe, desde a adaptação do glossário até o desenvolvimento de soluções para facilitar o jogo, me permitiu explorar ideias, experimentar e inovar. O mais especial foi perceber que, ao mesmo tempo em que criava, eu também estava aprendendo: o desenvolvimento do jogo me proporcionou um contato direto com as temáticas da disciplina e foi fundamental para o meu desempenho acadêmico.

Foi incrível ver a turma aprendendo e se divertindo com um jogo que criei com tanto carinho. Mesmo com sugestões de melhorias, todos relataram que a experiência ajudou a fixar os conteúdos. E o mais legal foi que eu pude adaptar o Codenames, jogo que eu adoro, para a Geotecnia, que é uma área que me fascina e que eu também adoro.

Como conclusão geral do processo, os resultados indicaram que quando um jogo é bem estruturado, a assimilação de conceitos complexos é facilitada. Também foi observado que a afinidade prévia com jogos pode influenciar a experiência e a motivação dos participantes. Ou seja, é importante que esses aspectos sejam levados em conta ao se utilizar alternativas gamificadas. Assim, pesquisas futuras podem explorar melhor essa relação, testando com mais pessoas e considerando a influência dos fatores individuais nessa relação.

Por fim, acho importante destacar que essa foi só a primeira fase do processo. O GeoCodes tem potencial para ser levado a outras disciplinas, cursos, oficinas, até para o ensino médio técnico. Isso porque, para mim, unir a ciência, a criatividade e a diversão é uma receita potente para tornar o aprendizado mais leve e significativo.

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Quer ficar por dentro das novidades do GeoFUN? Acompanhe nossos conteúdos e lançamentos em primeira mão!
plugins premium WordPress